segunda-feira, 5 de abril de 2010

Voltando pra casa (contrações)

Sempre assisto a filmes estúpidos em dias aparentemente estúpidos, nada mais apropriado a alguém como eu. Apago todas as luzes, deixo as janelas abertas, abandonadas, aproximo o café. Se for pensar, faz sentido. faltando poucas horas para o fim de um dia que esteve em sua maior parte com uma chuvinha ordinária cheirando à mofo e sem nenhuma perspectiva de sexo à dois (ou mais), nada melhor do que contribuir pra que ele acabe pleno em sua mediocridade.
O roteiro vence o efeito do café e adormeço. No sonho sou idêntico à realidade: nada de super-poderes, super-aventuras ou super-membros. Estou caminhando debaixo de uma chuva dos infernos, a calçada é estreita e uma procissão de carros passam jorrando água de sarjeta pra tudo quanto é lado, corro o máximo que posso até chegar na minha utópica casa, abro a porta e entro, ouço som de buzina, saio e não há carro algum, entro e o som torna a soar, saio e entro mais algumas vezes até que enfurecido furo os tímpanos com um hashi. A dor no sonho me acorda, a buzina continua. Foda-se, não vou servir de palhaço. A buzina insiste. Visto a peruca e o nariz vermelho e vou lá fora ver quem é. O carro está todo filmado, inclino-me pra tenta enxergar algo, os vidros baixam eletricamente...
__Entra!
__Desse jeito?
A porta abre...
__Melhor agora?
Mesmo em trajes circenses adentro o auto que sai lentamente pela noite até agora estúpida.
Tentei tirar alguns assuntos da manga, infalíveis outrora, mas que não surtiram efeito desta vez. O maior movimento que seu pescoço fez foi o de levar os olhos até o retrovisor. Atrevi-me e abri o porta-luvas, vasculhei dentre os compactos algo que fosse impactante. "The Night", belíssimo. Já conquistei mulheres entoando aquelas melodias. Enquanto me entretia no manejo do tocador não percebi que o carro estava em repouso. Algumas moedas caíram sobre meu colo.
__Traga-me cigarros e um isqueiro.
Obedeci imediatamente, acreditando que aquilo, de alguma forma, pudesse render uma oportunidade de sexo à dois. Voltando ao carro, já empunhado do maço e tambor, ofertei o produto.
O carro voltou a movimentar-se...
__Acenda um, sim?
__Pronto, tome.
__Agora fume-o!
Apesar de nunca ter fumado, o fiz. Traguei, enchi o interior do auto de fumaça. Comecei a divagar sobre seus efeitos mágicos: Talvez o mistério seja esse, e tambem o caminho. Vislumbrei nisso uma raiz de excitação. Aquela neblina fétida pode ser seu fetiche, sua tara. Uma loucura sexual banhada a fumaça, cinzas e tumor palatar, o pulsar daquele movimento. Por que não? tem louco que se excita martelando o pau, foda-se, vou me entregar a esse delírio, transformar essa noite estúpido em torpor, escândalo, gozo. No auge da loucura e do terceiro acendido "na bunda do outro" meti a mão no meio de suas coxas, subindo com pressão até alcançar meu objetivo.
Com as mãos no volante e ainda dirigindo e soltando ruídos inaudíveis de, à princípio desejo, parece que queria me dizer algo. O ar começou a pesar senti uma pressão insuportável sobre a cabeça, começamos a gritar, olhei para o céu pelo pára brisas e avistei assustadoramente descer em seqüência, em ordem alfabética, os nomes dos atores do filme estúpido que assistia, que odiara e que, por todos os diabos, estava acabando sem final feliz. Catso.

2 comentários:

Davi disse...

caraca, foda!

.patrícia disse...

fodíííssimo.