quinta-feira, 16 de abril de 2009

Relações mediadas III

Uma lágrima molhou o teclado. Era a milésima vez que soluçava secamente, aprendeu com o tempo a engolir todo tipo de sentimento, não que não sentisse, sentia, mas engolia, como quem tem vergonha do mau feito, ou do direito.

Dessa vez todo sentimento acumulado, não extravasado, parecida que ia implodi-lo. Já fazia duas semanas que tinha terminado o relacionamento, desde então falou poucas vezes com a antiga companheira, sempre duro e controlado, reprimindo a imensa angustia por estar longe de seus braços. Não falava do assunto com a família, dividia a dor com amigos virtuais, pessoas que nunca viu, no entanto desdenhava o próprio sofrimento, suavizava sua desgraça na teclas molhadas da máquina fria.

Passou todo o final de semana sozinho em casa, a família viajava. Trancado num quarto escuro, sua lágrimas rolavam sem sentido. Sentia dor, saudade, vazio, mas apenas para si próprio, e ele não tinha compaixão de si.

O silencio e o barulho das coisas silenciosas o incomodavam. Pensou que naquele dia enlouqueceria. Dias antes trabalhava em algo que o confortava. Era uma carta, longa e cheia de fúria. Eram páginas e mais páginas discorrendo sobre o fim do relacionamento, frases apaixonadas e pedidos de perdão misturados a rancores passados, magoas e acusações. Escreveu tudo num sopro, sem pensar. Vomitou tudo que sentia, sem coerência ou razão. Queria, contudo, seu amor de volta. Pensou que poderia com aquilo desfazer todo o mal entendido. Ainda nos amamos, pensava.

Toda a carta escrita num impulso perdeu-se e meio aos códigos binários fruto de um defeito no computador, essa máquina fria. Não teve amimo para começar tudo de novo, passou até a rever alguns ditos. Achou que aquilo era um tipo de sinal. Era mesmo o fim.

Agora ali, tremendo, temendo a loucura, precisava fazer algo. Sentou frente à máquina e com o mesmo espírito impulsivo que nunca teve colocou-se a escrever.

“Janaina, penso agora na tua voz doce que me parece música. Acho que nunca te disse isso. Sinto falta da sua presença, preciso desesperadamente de você perto de mim. Sei que sente algo por mim e quero tentar ser melhor. Agora sei que te amo. Me liga para nos vermos, caso contrario vou tentar entender seu silêncio. Assinado Sergio.”

Endereçou e clicou “enviar”. Jogou-se na cama e dormiu confortado. Sonhou com o futuro e com a velhice ao lado da amada.

A mensagem nunca chegou ao destino.

Um comentário:

Sâmia disse...

triste, mas real.