Faça isto agora.
- Eu sou uma puta! Trate-me como mereço! Foi o que disse assim que saiu do banheirinho, sem uma única peça do seu fino vestuário.
Foram as únicas palavras ditas naquela tarde, naquele quarto. Passou por mim com olhos tortos e vermelhos; olhou para meu rosto, que neste momento já não passava de uma massa desfigurada de carne, suor e constrangimento e, sorriu com dor. Sabia. Encheu dois copos ensebados com uma bebida qualquer, entregou um para mim e entornou o outro de uma única vez. Parte do líquido escorreu por seu corpo e parte levou sua saliva viscosa para o estomago protuberante. Engasgou. Segurei o copo com força como se fosse a única coisa que me desse apoio e esperei as ordens. Postou-se de joelhos, olhou-me mais uma vez, virou-se e levou as mãos ao piso frio e sujo. As paredes vermelho-sangue misturavam-se com sua pele rosada bem tratada e tudo dentro do seu contexto se tornava algo imoral, sujo e necessário. Necessário para ser completo, para eu começar a viver. Igual a um quadrúpede, um animal, de joelhos para mim. Mais um gole dessa bebida seca, forte, amarga. Sua cara e o pescoço vermelho. Sentado no colchão fino coberto por um encardido lençol verde claro, eu podia sentir o estrado da cama cutucando meus ossos, espetando-me, empurrando-me, é sua vez! A janelinha encostada no teto, de vidros amarelados permitia que um resto de luz do fim da tarde penetrasse no recinto e esculpisse minha sombra apagada na parede e sua no chão. Chorava ou sorria? Sabia da minha covardia, mas também do meu desejo. Eu estava entorpecido. A bebida já morna em minhas mãos, meu último gole: ofegante, o tremor contido. Os dias quentes e úmidos tornavam o ambiente tóxico: o calor, o suor, o mofo, o gosto do sal, o sabor cítrico do perfume sofisticado, o álcool, o cheiro do seu sexo. Chorava? Sorria, soluçava, balançava a cabeça como se ouvisse “I had the craziest dream”, olhos fechados, o ritmo bêbado, os poros dilatados. Levantei ainda fraco, a gravidade exercia uma força descomunal sobre meu corpo: eu pesava uma tonelada, meus pés não permitiam que eu continuasse. Não permitiam ou era eu que estava retardando ao máximo o grande momento? Um passo se tornou quilômetros. Os segundos serviram para relembrar toda minha existenciazinha medíocre, que você ajudou piorar significantemente, não é? O ritmo, a expectativa, a excitação. Um passo apenas. Queria que te fodesse? Eu te fodesse? Era minha vez?! Já estava no lixo, não é? Sentia culpa, já havia me pedido perdão. O que eu queria dinheiro? Uma casa? Uma nova identidade? Uma nova vida? O que eu queria?! Eis o que queria. Do jeito que eu queria. Agora saberia o que uma pessoa sente quando é rasgada por dentro, quando o sagrado é violado. Vou fazer de modo que o dinheiro não possa limpar. Vai me entender. Sabia que o único meio de se retratar era esse. Agora seu soluço cessara e tinha um sorriso nervoso, porém não havia o desespero que eu esperava e sim ansiedade. Havia segurança, talvez fé. Tinha descoberto o amor ao próximo, entregou-se a religião: Ia se sacrificar para alcançar o céu? Também as minhas custas? Minha vida inteira servil. Desde a concepção até a morte. Eu o empregado e veja bem, você estava de joelhos agora... mas esse lugar é meu. O ritmo. O rabo virado para mim. Seu sacrifício pela redenção. Você sairia ganhando novamente, estava à frente. Eu não te salvaria. Abaixo as calças e sem dizer uma única palavra ofereço-me como sempre. Foda-me você! E ele se regala.
- Eu sou uma puta! Trate-me como mereço! Foi o que disse assim que saiu do banheirinho, sem uma única peça do seu fino vestuário.
Foram as únicas palavras ditas naquela tarde, naquele quarto. Passou por mim com olhos tortos e vermelhos; olhou para meu rosto, que neste momento já não passava de uma massa desfigurada de carne, suor e constrangimento e, sorriu com dor. Sabia. Encheu dois copos ensebados com uma bebida qualquer, entregou um para mim e entornou o outro de uma única vez. Parte do líquido escorreu por seu corpo e parte levou sua saliva viscosa para o estomago protuberante. Engasgou. Segurei o copo com força como se fosse a única coisa que me desse apoio e esperei as ordens. Postou-se de joelhos, olhou-me mais uma vez, virou-se e levou as mãos ao piso frio e sujo. As paredes vermelho-sangue misturavam-se com sua pele rosada bem tratada e tudo dentro do seu contexto se tornava algo imoral, sujo e necessário. Necessário para ser completo, para eu começar a viver. Igual a um quadrúpede, um animal, de joelhos para mim. Mais um gole dessa bebida seca, forte, amarga. Sua cara e o pescoço vermelho. Sentado no colchão fino coberto por um encardido lençol verde claro, eu podia sentir o estrado da cama cutucando meus ossos, espetando-me, empurrando-me, é sua vez! A janelinha encostada no teto, de vidros amarelados permitia que um resto de luz do fim da tarde penetrasse no recinto e esculpisse minha sombra apagada na parede e sua no chão. Chorava ou sorria? Sabia da minha covardia, mas também do meu desejo. Eu estava entorpecido. A bebida já morna em minhas mãos, meu último gole: ofegante, o tremor contido. Os dias quentes e úmidos tornavam o ambiente tóxico: o calor, o suor, o mofo, o gosto do sal, o sabor cítrico do perfume sofisticado, o álcool, o cheiro do seu sexo. Chorava? Sorria, soluçava, balançava a cabeça como se ouvisse “I had the craziest dream”, olhos fechados, o ritmo bêbado, os poros dilatados. Levantei ainda fraco, a gravidade exercia uma força descomunal sobre meu corpo: eu pesava uma tonelada, meus pés não permitiam que eu continuasse. Não permitiam ou era eu que estava retardando ao máximo o grande momento? Um passo se tornou quilômetros. Os segundos serviram para relembrar toda minha existenciazinha medíocre, que você ajudou piorar significantemente, não é? O ritmo, a expectativa, a excitação. Um passo apenas. Queria que te fodesse? Eu te fodesse? Era minha vez?! Já estava no lixo, não é? Sentia culpa, já havia me pedido perdão. O que eu queria dinheiro? Uma casa? Uma nova identidade? Uma nova vida? O que eu queria?! Eis o que queria. Do jeito que eu queria. Agora saberia o que uma pessoa sente quando é rasgada por dentro, quando o sagrado é violado. Vou fazer de modo que o dinheiro não possa limpar. Vai me entender. Sabia que o único meio de se retratar era esse. Agora seu soluço cessara e tinha um sorriso nervoso, porém não havia o desespero que eu esperava e sim ansiedade. Havia segurança, talvez fé. Tinha descoberto o amor ao próximo, entregou-se a religião: Ia se sacrificar para alcançar o céu? Também as minhas custas? Minha vida inteira servil. Desde a concepção até a morte. Eu o empregado e veja bem, você estava de joelhos agora... mas esse lugar é meu. O ritmo. O rabo virado para mim. Seu sacrifício pela redenção. Você sairia ganhando novamente, estava à frente. Eu não te salvaria. Abaixo as calças e sem dizer uma única palavra ofereço-me como sempre. Foda-me você! E ele se regala.
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por: Elaine Bandeira
2 comentários:
Ritimado, interessantemente crú, talvez alguem se incomode, mas eu não. Gostei muito, mas nada senti. Nenhuma emoção me tocou, mas tentei me emocionar, assim como o personagem também tentou, então o que me apróxima deste é a tentativa de emoção sem sua efetivação. Somos irmãos na secura.
Parabéns Elaine
pois é... é quando o amor acaba.
adoro!
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