quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Tese entreaberta

imagem: .patrícia


Esclarecidos eram os que saíam pelas ruas, iluminando as intenções com velas de sete dias. Ele não. Não sabia o que queria. Menos um dia, pensou – e pensava nela. Deu cem passos pela madrugada rastejada, de pés pelados e pijamas. Voltou. Arriscava mais um tropeço, ou camuflava o desejo entre os porta-jóias dos hormônios suicidas? Consumido pela dúvida, entrou em casa.
Apontou o lápis. Achava, apesar do aspecto alienado, que nadava na tecnologia vigente. Embrulhava idéias com papel de segunda, quase parecido com papel higiênico. Entre o tempo de sentar, de pensar e de escrever, a ponta quebrou pela quarta vez. Não era por falta de dinheiro. Quebrou de novo. Tremeu de uma raiva barata – cortesia de nervos velhos de um corpo cansado. A madeira, podre que era, não suportava ser cúmplice das merdas que ele escrevia.
E ela... – pensava. Não escreveu nada. E escrevia, toda noite, fruto de uma inspiração companheira de bar, sinuca e sucos de acerola. Ele não era bem visto. Não bebia. Não caía. Não usava porcaria alguma. Sempre exigia da mulher do Volmir suco feito na hora. Acreditava em propriedades curativas da fruta. Mas não sabia que doença curava.
Sem muitos anexos, optou por uma de perto – que era para não gastar com gasolina, nem pernas. Flores? Não. Tinha pegada forte, e bastava.

5 comentários:

Glauco disse...

Eu li. Mas não vou dizer nada aqui para não deixar pistas de um possível assassinato.

Glauco disse...

Agora eu pensei.. você não é a especialista de quando o amor acaba?

Glauco disse...

Quando acaba é ótimo. O problema é quando não acaba.

Rafaela Locatelli disse...

vo adicionar no meu blog.
Beijos flor

Rafaela Locatelli disse...

esse texto dispensa comentários... hahah simplesmente ótimo!
;****