quarta-feira, 23 de julho de 2008

O pintor

Desfez as respostas tricotadas durante a madrugada. Não disse. Permaneceu calada, enquanto os olhos confessavam o crime. Tentava ouvir o que eu dizia, mas a mente dela congelava hipnotizada no movimento abre e fecha da minha boca. Não ouvia. No mínimo imagina que, para as minhas perguntas, as respostas devam ser as mais convencionais possíveis. Que tipo de babaca ela pensa que eu sou? Negou, tentou inverter a situação e quase se contradisse. Desistiu. Ai, o mal da volição. Fez cara de anjo, me envolveu com gestos de meiguice e ternura. A carne é fraca. Pediu desculpas sinceras... Jurou a eternidade do amor, disse que vai cumprir as promessas. Disse convicta, livre e decidida. Eu sei quando ela diz a verdade. Disse com todas as letras que eu estava certo. Pela primeira vez me deu razão, mesmo sabendo que em todas as outras eu também tinha. Ela fala a verdade. Ela se culpa.
- Você se culpa.
(Três segundos de silêncio). Agora vem dizer que me ama. Passo número um, passo número dois, passo número três. Esse jeito dela me desarma.
- Amo você!
Me envolvo. Ela sai ilesa. Foi falar com a amiga.
...
- Sim, ele acredita. Idiota. Da próxima vez aponto o corvo, para olhar de novo...ai, aquele corpo cheio de tinta...

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