domingo, 15 de junho de 2008

Segunda leva de molhados!

Cultura

por: Patrícia Galelli

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Qualquer Um

A vida é um vento sem rumo,
embora as vezes ela aponte a uma direção
nada igual a um plumo
é sempre sem muita precisão

Esse vento as vezes é calmo,
as vezes um furacão, um tornado
melhor quando é uma brisa leve de verão
ou o frio e belo vento do inverno

muitas vezes esse vento leva,
muitas vezes esse vento trás
tão incerto quanto seu conteúdo
são os ventos que fazem isso tudo

As vezes o vento causa destruição
e tudo parece errado
só que isso pode ser uma lição
e nada é por acaso,

assim como o vento...

...o vento incontrolável
que também é instável
e num instante torna
o mal apagável
e o bem incontestável.


por: Guilherme De Bona

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O Outsider

I

distante, urgente
da margem a observar
o novo passado,
o velho presente

dá margem,
interpretar
estático a observar
o lutar das ondas do mar
disformes a desgastar

rochas imóveis
fadadas
ao eterno
repousar

desafia a inércia,
poder da expectativa
e a estética
mesmo estático

não cede,e prossegue
neste estado
filho bastardo de seu tempo,
tempo de maus tratos


II

em sua eterna andança,
aprecia a bela dança
dos pássaros

aparentemente de passos
milimetricamente calculados
ensaiados

bailam no azul profundo,
magistral
para outros, teto do mundo
em interpretação marginal

caminha descalço
sobre areia cortante,
disforme, diante da intempérie
nem tudo o que reluz é vidro,
e mesmo assim fere

III

segue, a maltratar
o vazio de cada dia
o vazio sentido
que empregamos
às nossas vidas

uma pura mentira
um brinde ao medo
ao puro e simples medo
deste nosso momento
indubitavelmente terreno

alguém que dá formas a sentimentos
transforma-os em beleza
diante da cacofonia de lamentos
do nadar contra a correnteza
do medo, do diário tormento

esculpe o viver,
como não proeza
pois herdou do artesão a destreza
de dar vida e formas
a árvores mortas

a um novo amanhecer
que o mundo não vê

diz a si mesmo,
diz a ti, a esmo

O mundo está morto!
e segue em pensamentos, absorto



por: Wagner Miranda

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Ainda sem título


Os soldados
caindo de
pára-quedas
guarda-chuvas
guardanapos: a guerra
começou.

Os gatos conspiram
contra o governo;
querem uma
ditadura de bigodes.

Canhões furam
a noite
do último dia
do mundo.
Não saiam de casa,
crianças: o lar
é o melhor lugar
para morrer.

Os projéteis
entram-nos
pelos ouvidos
e outros
orifícios (na ausência,
cavados por eles
próprios.)

Esqueçam as perdas,
os perdões
que hoje a pele
vale mais.

A manhã nascerá
Vermelha
nessa cidade
do sul.
Poucas roupas
Limpas
Verão
o sol.
E nada mais importa.


Um bêbado (armado
de uma garrafa)
canta
ao som de
um fuzil
assassino – a música
não morre.

por: Jorge Bronzato Jr.


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Astro Desastrado

E o desastrado vivia distraidamente,
Separava arredio o corpo da mente,

Saía dos lugares onde é convidado
Se metia em confusão onde não é chamado,

Tropeçava e caía de cara no chão,
Toda hora que abria a porta da percepção,

Perturbava a cabeça a santa paciência,
Um divã e uma dose pra tanta demência.

Fala o que sempre foi dito
Age como nunca neste mundo
Surpreende com seus absurdos
Quer-se e sempre será querido

Bota uma camisa-de-força
E sai sambando pelas ruas
Despe essa madura alma dura
Veste a fantasia mais tola

Se engasgava ao ingerir o tal maná dos deuses,
Refutava o zen-budismo dos montes chineses.
Refletia-se aos cacos no espatifado espelho,
De pileque, fica sóbrio, e de cara, fica bêbado

Estirado no chão,
Fumou cigarro a varejo
Depois do gozo na cama
E do inesperado beijo

Cada passo que seguia friamente calculado
Por testemunhas oculares de fatos bisbilhotados
Conforme suas faculdades débeis mentais,
Dito sob alucinações de mapas astrais
Tal qual amestrados modelos científicos
Descobertos por pesquisadores dos hospícios

É quase sem querer ou sem querer querendo?
É não pensar em dizer o que não se diz?
É não tentar entender a quê se está tendendo?
É não dizer o pensar num já rompido triz?

Chegou agora do inferno,
Mas já está indo pro céu
Veio com seu novo terno,
Engomado no pinel

Vai pro céu,
Vai pro céu,
Vai pro céu,
Vai pro céu...

por: Pedro Soares

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O que seria do homem se pudesse começar tudo de novo, reescrever sua história em uma terra sem leis ou ordens, onde ninguém ditaria o que fazer ou não, com ninguém se importando com o certo e o errado, seria possível?Seriamos capazes de fazer do novo mundo um lugar melhor? Ou em algum momento nos assustaríamos ao perceber que nos tornamos o que mais tememos, santos e pecadores.

por: Jakson Käfer

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Minutos

A cartela vazia do Genérico me olha. É de um laranja queimado, o verso – de pôr-do-sol. Agora chove. Ao longe, o arco-íris diz que a paisagem pode ser feia e não há remédios suficientes para suportar, mas ainda há de ser amor, se por olhos livres.
Lembro que na última vez comprados, pareciam fortes. Agora, nem analgésicos, nem anfetaminas. Morro de amores pelas cores esquecidas. De lado, flagelos abandonados aguardam tempo para me aquecer. Visto asas. Figuro entre passeatas solitárias, e me molho de saliva por outra vista bonita assim.
Invisível, não procuro proteção de madeira envelhecida ou trincheiras. Minha luta é pelo ar. Onde ele passa, aonde ela passa, por onde não vejo aonde vão. Fico vendo – camuflada – forrarem o estômago com a fome nas mãos. Não comi nada. Não preciso já.


Amanhã, talvez por ti.

por: Patrícia Galelli

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O que há em mim que sufoca?
Esse tal conhecimento. Esses livros que não li. Essas informações que não entendo.
Minha burrice me incomoda. Minha ignorância me incomoda.
Nunca será suficiente. Nunca irá terminar.
A vida é um processo de conhecimento; o tempo é pressão e cobrança.
Eu perco meu tempo com nada.
Olho meus livro e não tenho vontade nenhuma.
Não por que são ruins, é por que não tenho ânimo.
As coisas tem mais sentido quando leio, mas logo se perde quando esqueço.
Olho o mundo e da minha cabeça nada retiro. Nada se processa nos meus neurônios da "intelectualidade".
Eu só penso no nada. Eu vivo no nada.
Por que me preocupar então?
Comparação!
Competição!
Vaidade!
... mais nada.
Só para efeito de conversa.
Será que entenderei aquilo que está me sendo dito?
Será que serei inferiorizado por aquilo que não sei ou não acredito?
Ah, mas que saco de vida.
Que coisa chata é essa coisa de conhecimento.
Perda de tempo dos dois lados.
Eu apodreço; e nada vivo e nada conheço.
Na minha cara está estampada a rudeza da culpa e a grosseria do rancor.
Culpa de não saber e rancor de não poder.
O que restará disso tudo?
O que devo fazer?
Cai no nada e agora tenho duas vias: aceitarei esse meu nada como a morte de minha existência ou destruirei aquilo que não entendi ou não entenderei?
Escrever é a arte de destruir e construir.
É ser corajoso e um medroso.
Tem medo do mundo e coragem para enfrentá-lo.
É ressentir.
É se matar para nascer de novo.
Deve matar esse mundo e fazer brilhar um mundo novo.
Mas o mundo é real e o novo é irreal.
É escolher entre viver no real ou no irreal.
Duas escolhas:
Duas portas a seguir:
Ir para o mundo e o aceitar tal como ele é, ou ir para ilusão e negar o mundo tal como ele é.
A primeira concede o prazer de viver, o segundo o desprazer de viver.
O primeiro é aceitar, o segundo é rejeitar.
O primeiro é ser aceito, o segundo é ser rejeitado.
O mundo clama!
Mas e a alma? Não descansa!
Na alma de cada indivíduo há a impotência: de nada mudar e de nada valer.
Olhe-se no espelho. Respire. Olhe no fundo de seus olhos. E então veja...Veja que nesse mundo, você não vale a pena.

por: Robson Almeida

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Para os Mecânicos de Guarda-Chuva


Consertar as calçadas,
os postes,
menos as pessoas,
essas eu acho que vai muito tempo ainda,
talvez dois milhões de anos.
Pra esse desacerto total,
precisamos nos proteger
dessa chuva que não é água,
mas diarréia!
Dê-me, então,
um guarda-chuva também.
Melhor se precaver,
ainda mais nesse inverno
da poesia e da utopia.


por: Volmir M. G.


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A luz da lua da meia noite

Lá vai ela, conduzida pela lua de sua deusa,
Vagando pela noite adentro despreocupada,
Seu vestido branco e longo denuncia toda sua pureza,
Sua alma por um momento é elevada.


Era noite de lua cheia, quem me dera,
saber sua intenção,
tão bela, celebrando seu ritual de primavera,
Cantando uma estranha canção.


Tantas surpresas a noite pode trazer
mas ela não parece se preocupar,
Apenas executa sua dança com maestria e prazer,
Deixando toda sua inocência estampada no olhar.


Sob a luz da lua da meia noite deixa sua oferenda no alto da montanha,
E segue pelos campos verdes de Ghirion iluminando a escuridão,
Nenhuma culpa ou arrependimento a acompanha
Satisfeita, retorna a sua vila, certa de sua solidão.


por: Ricardo Daneluz

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