terça-feira, 7 de agosto de 2007

Aos reizinhos


Uma sucessão ininterrupta. O tempo. É fatalmente irreversível. O medo. É fatalmente humano. O tempo do medo não findou. Foram-se as causas, esquecidas. Foram, sem levar as conseqüências. O homem, mesmo assim, não findou. Porque o tempo não acaba, se é que existe. Ficaram. O homem do poder, que quer mais. E o homem da memória desconfigurada pelo “Nunca mais”.
Apenas homens abalados. Embalados pelo medo do tempo futuro. Empurrados pelo sofrimento do passado. Num presente, gritante, que carrega alguns, apenas alguns, homens conscientes do que ainda nos espera. Do que devemos esperar. E esperamos, sentados no sofá. Esperamos que os desesperançados também esperem. Pedimos paciência. Pedimos compaixão. Sentimos a miserável compaixão por nós mesmos, ao refletirmos a história do nosso tempo. Ficamos. Esperando...
Desconsolados? Sem amor? Não sei do mundo. Mas a mim resta a dúvida e a incerteza, que penso reger a humanidade. Somos desconhecidos. E desconhecemos, parados, por esperar. Sem amor? Não conhecemos o amor. Mas sonhamos. Desenvolvemos medidas pertinentes à vida. Sobrevivemos. Iludimos, iludidos. Mentimos. Mentem-nos. Metemos os pés pelas mãos. E corremos. Sem termos para onde ir. Fugimos para o nada, fugindo do medo. Fingindo arrependimento. Lavando as mãos. Sabendo, intimamente, das armas do mundo. Descrentes, porém, do poder já provado das armas dos homens.
Hiroshima. Nagasaki. Eu. Tu. Nós. Vós. Eles jamais esquecerão. Vós sabeis: Nós relembraremos. Tu também sabes: Eu tenho medo. Porque o homem também é uma sucessão ininterrupta. Corrupta. De uma inteligência inconseqüente. Atormentado pela ambição. Pelas engenhocas bélicas. Pelas pílulas do bem-estar. Pelas construções. Pelos aviões. Atormentados pelo orgulho da conquista. Orgulhosos da efêmera vivacidade de qualquer criatividade, disfarçadamente insana, das grandes organizações.
Somos modernos. Logo não nos preocuparemos mais com o medo. Será apenas uma síndrome do pânico – tratável. Porque o dinheiro compra uma consulta psiquiátrica. Porque somos máquinas e é só consertar. Porque somos tolos, e pensamos que qualquer lucro vale a pena se tiver alguém para admirar. Desculpa, mas não volta mais. Os erros são os mesmos. São naturais como os ciclos diários de transtornos bipolares de humor. Sobreviveremos! Dopados, talvez. Mas isso é apenas um detalhe...É apenas um “apesar” da modernidade.
Vai passar...Com o tempo, passa. E exato porque o tempo leva, que fica uma leva de lembranças e histórias para contar. Fica a necessidade do sonho. O resgate diário da poesia. As invenções para distrair. A ciência e a tecnologia para consertar, inventar mundos novos e descobrir algum lugar para invadir, quando não haverá nada mais para se fazer. Depois de um instante de tempo, que assegura a colação do erro, o medo toma o peito desesperado. Irreversível. Restando a criação de memoriais, de exposições, e pretextos para tocar nos assuntos de guerra, de políticas infelizes, de fome, de homens que sumiram e que jamais serão identificados. De homens que como o tempo, sequer deram a certeza de que existiram. E só. Fatalmente irreversível. Fatalmente humano.

4 comentários:

Davi disse...

uuuuuuuhhhfa, só agora consegui conectar no blogspot.com
Como eu disse Pagu é mesmo um complo contra blogueiros de Sp, várias pessoas estão reclamando do mesmo problema.
Entrei pelo site: http://www.rapidwire.net

Anônimo disse...

ai, humano, demasido humano...

Anônimo disse...

Ficou bom pratrícia. Que inspiração.

Profa. Camila disse...

Olá Patrícia.... li agora o seu texto, acredito que seja esse... muito bom, no nínimo, nos leva para uma imensa reflexão.... inspirador...Aproveite bastante essa sua facilidade de articulação com as palavras. Parabéns!!
prof. Camila