sexta-feira, 29 de junho de 2007

Um grito

Ontem ouvi um grito. Não era um grito de medo. Não era de pavor. Nem de susto... Era um grito afogado. Não de longe. Não de perto. Devia vir do centro. É. Vinha da metade do caminho. Do meio. Do lugar que divide o sim do não. O não e o sim. Não sei do que era. Mas era afogado. Não deve haver água naquele lugar. E nem bombeiros. Salva-vidas. Não deve haver lagos, nem mares, nem rios. Mas, era afogado.
Deve haver algum muro. E, se o grito era afogado, o muro devia de chorar. O muro das lamentações? Não.
O grito não era de medo. Não era de pavor. Nem de susto...De tristeza? Afogado é o que ele era. Afogado por lágrimas. Deveria estar indeciso. Porque ficava no meio do caminho. O grito vinha da metade. Do centro. Do lugar que divide os pólos positivo e negativo.
De onde ele vem? O grito do muro. O grito. É do muro? Ou em cima do muro está quem gritou? Alguém gritou? Eu ouvi um grito. Foi ontem. E não era de medo. Era afogado. Afogado pelo vento. Pelo oxigênio que o pulmão quis tomar. Um porre de oxigênio. Tomou. Veio a ressaca e o grito. O grito foi para acordar. Estava indeciso, é? Dormia recostado, empobrecido, desconfigurado pela incerteza. Indecisão. Acordou? E...Muros choram? Muros gritam? (Ou era alguma gente). Alguma gente parada na metade do caminho? E gritou do quê? Afogou o grito para quê? (Ou o grito tem vontade própria).
Desespero. Foi. Angústia. O grito afogado de silêncio. De vento que cala num grito o silêncio. Não era porre. Pura vaidade! Os muros não choram, nem gritam. De gente é que era. De alguém doente. Mordido de indecisão. Mordia. Doía. E gritou.
Que se conteve até doer de frente
E segurou, escondeu de toda a gente...
E ficou sem ter lados para ir
Porque não soube brincar de deus sem se ferir.

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