Era vazio o dia, fluía de uma
forma sonolenta e febril, se arrastando ruidosamente ao seu destino. Meu corpo
trêmulo se esgueirava entre as paredes da casa, atrás de restos de álcool e pão
amanhecido. Não sabia como havia chegado ali, por quanto tempo residira e se em
algum momento poderia escapar.
Deitei-me sobre o chão de tacos
da sala, enquadrado num losângulo deformado que o sol produzia através da
janela. Procurei ali me aquecer da frieza sombria dos outros cômodos. Sentia
dores por todos os ossos, retorcia-me em câimbras naquela ruína abandonada e
sem mobília até que, anestesiado pelo calor, adormeci.
Passados dias, anos ou instantes,
despertei. O manto itinerante do sol na janela já abandonara a habitação, os
trapos que possuía eram insuficientes para manter a temperatura em minha carne.
Ainda aturdido tentei levantar,
eis que uma aparição pôs-se à minha frente. Tinha uma aura celestial, cabelos
dourados e pele cândida, de seus lábios não se propagava som algum, seu corpo
não emanava odores, seus olhos eram serenos e ignoravam os meus.
Mal pude me mover, com esforço retrocedi
lentamente até o canto, junto às paredes desgastadas. Apavorado e imóvel,
acompanhei sua lenta e aterradora aproximação, o sangue latejou por minhas
veias até silenciar, imobilizar. O coração entrou em espera, minha respiração
se ritmou.
A criatura despiu-me com
violência, investigou meu corpo como se procurasse algo que lhe pertencesse,
cravou suas garras em minhas costas, dilacerando-me, causando dor e pulsação.
Fiquei sem poder reagir, num transe
de flagelo e apreensão, enquanto a aparição ajoelhava-se e colocava meu sexo em
sua boca, desintegrando e conduzindo-me em cada movimento a um abismo de escuridão,
onde continuarei ...
condenado...
eternamente...
a recordar.
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