domingo, 3 de fevereiro de 2013

Outro mesmo amor


...Ele vê o corpo de sua nova amante, que se levanta da cama; ela está de pé, exibe seu corpo de costas, as grandes coxas cobertas de celulite; a celulite o encanta como se expressasse a vitalidade de uma pele que ondula, que vibra, que fala, que canta, que estremece, que se exibe; quando ela se inclina para pegar o penhoar jogado no chão, ele não consegue se controlar e nu, deitado na cama, acaricia essas nádegas magnificamente redondas, apalpa essa carne monumental, abundante, cuja generosa prodigalidade o consola e acalma. Um sentimento de paz o invade: pela primeira vez na vida, a sexualidade não envolve nenhum perigo, nenhum conflito ou drama, nenhuma perseguição, nenhuma culpa, nenhuma preocupação; ele não tem que se ocupar de nada, é o amor que se ocupa dele, o amor como ele desejou e que ele nunca teve: amor-repouso; amor-deserção; amor-despreocupação; amor-insignificância...

Extraído do livro "A Ignorância" de Milan Kundera, 
e dedicado à Wagner Almeida, a quem tanto admiro
e compartilho pensamentos.

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