quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Entre o estômago e o ralo

Me perguntei se era certo apoderar-me da minha vida para isso. Ele conferia daquele jeito a caixa de correio toda vez. O jeito empedrava meus olhos, era realmente os olhos de antes. O short sem botão, nas cores largas de sorriso refém da timidez, ele descia a rampa de concreto para se apagar enquanto amanhã não viesse. E eu ligava o carro, os faróis, e achava que amolecia os olhos antes de chegar à esquina de casa. Medo de bater, de ferir quem viesse pela pista ao lado, ao contrário de mim e de nós.

O amor homeopático que bebia em doses pequenas dia a dia era remédio de ferida à preguiça e mal estar. O amor morria a cada gole. Antes do gole, eu morria de vontade de fazer bochecho com o amor, esse. Senti-lo passar por todos os meus dentes, misturar-se à saliva e até de renunciar minha garganta na possibilidade de me afogar com ele.

Agora não sei da urgência que me toma. Me sinto numa boca, num bochecho. Eu passo por dentes, viro outro líquido ao me misturar à saliva e sei que há renúncia de uma garganta para um afogamento em mim.

Um bochecho, dois destinos. O ácido sarcástico do estômago ou o ralo mofado que leva à merda.

Foi nenhum, quando os olhos enfraqueceram e dois pequenos montes de pó castanho se formaram sobre o vestido azul que alcançava minhas coxas moles.

Um comentário:

Unknown disse...

Adorei Patrícia!