sábado, 12 de dezembro de 2009

O cão e eu

Antevisse o escuro, nunca que o “guaipeca” insistiria em existir. Acham que não durmo porque leio. É mentira. O cão, toda noite, chora a falta de liberdade no porão da vizinha. A veneziana se transforma em autofalante e encaminha o sonzinho agudo diretamente para os meus tímpanos. Numa das janelas abertas do computador, Borges relata a história da eternidade. A eternidade é a madrugada sem sono – a madrugada com o sono castigado pelo choro do cão.

Os textos de madrugada são raras expressões do dia. O meu punhadinho de 24 horas foi confuso, terminou torto. Eu, um tonto pedaço de gente a reconstruir a esperança. O cão chora e eu choro com o cão depois de lembrar o que me aconteceu. Aconteceu. Ponto. Passou. E a história da eternidade ecoa para pôr ao chão o otimismo que por ora apetece.

Borges e ele; Patrícia e eu. A quem acontecem as coisas? À Patrícia ou a mim? Afinal, qual de nós duas é a destrambelhada?

Perguntinha triste. Se o cão fosse gente, o que será que ele gostaria de ler pra não chorar? Numa dessas, ia preferir um drink, ou álcool puro que nem os moradores de uma cidadezinha lá pros lados de cima do País. Deixa pra lá. Hoje, porque já são 2h12, corro atrás do preju. Enquanto o comércio descansa seus manequins, penso numa estratégia. O jeito é morrer seco, mas não se entregar.

O cão dormiu. É a minha chance.

Nenhum comentário: