sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A peste escarlate



[...] A principio, quando só alguns desses germes entravam no corpo, o individuo não se dava conta. Mas cada germe se partia ao meio e virava dois, e fazia isso com tanta rapidez que, num intervalo curto de tempo havia milhões no organismo. Então o homem se encontrava enfermo. Sofria de uma doença e essa doença era batizada de acordo com o tipo de germe. Podia ser sarampo, gripe, febre amarela, ou qualquer um dos milhares de tipos existentes.

Agora, ai está o que é curioso em relação aos germes. Sempre apareciam novos no corpo do homem. Muitíssimo tempo atrás, quando existia pouca gente no mundo, não havia tantas doenças. Mas conforme as populações crescem e os homens passaram a morar mais próximos, em grandes cidades e civilizações, surgiram novas espécies de micróbios. Por isso, vários milhões e bilhões de seres humanos foram mortos. E, quanto mais aglomeradas as pessoas se encontram, mais terríveis eram as novas doenças. Bem antes da minha época, na idade média, teve a peste negra, que assolou a Europa. E assolou a Europa várias vezes. Teve a tuberculose, que aparecia sempre que os homens se encontravam apinhados demais. [...]

Foi no verão de 2013 que apareceu a peste. Eu estava com vinte e sete anos e me lembro bem. Os comunicados feitos por radiotelegrafia.

Parecia sério, mas nós, na Califórnia, como todos os demais, não estamos preocupados. A gente tinha certeza de que os bacteriologistas achariam uma maneira de vencer o novo germe, de mesmo modo como haviam vencido outros no passado. O problema era a rapidez alucinante com que o micróbio desmatava qualquer organismo humano em que penetrasse. Ninguém nunca se recuperava. Antes teve a cólera, em que você podia jantar com um homem sadio à noite, pela manhã, se acordasse cedo o bastante, vê-lo sendo levado pelo carro funerário. Só que nova epidemia era ainda mais rápida, muito mais rápida. A partir dos primeiros sintomas, o homem levava uma hora para morrer. Alguns duravam várias horas. E muitos morriam dez ou quinze minutos após o aparecimento dos sinais. [...]

O coração começava a bater mais rápido e a temperatura do corpo subia. Então vinha a erupção escarlate, espalhando-se a todo vapor. A maioria das pessoas não notava o aumento da temperatura nem a taquicardia e só se dava conta da doença quando a erupção escarlate sobrevinha. Em geral, sofriam convulsões na hora a erupção. Mas as convulsões não duravam muito e também não eram violentas demais. Quem sobrevivia a elas ficava então perfeitamente sereno e só notava uma insensibilidade subir com rapidez a partir dos pés. Primeiro, os calcanhares ficavam entorpecidos, depois as pernas, os quadris e, quando a insensibilidade atingia o coração, o doente morria. Não dormia nem delirava. A mente sempre se matinha tranqüila até o momento em que o coração parava. Outro fato curioso era a rapidez da decomposição. Tão logo a pessoa morria, o corpo parecia cair aos pedaços, reduzir-se ao pó, despencar a olhos vistos. Essa for uma das razões de a peste se espalhar com tamanha velocidade. Todos os bilhões de germe no cadáver se viam, assim, imediatamente livres. [...]

Jack London em “A Peste Escarlate”, 1912.


2 comentários:

Sei lá, Sei não disse...

tem coisas boas neste blog =D

Anônimo disse...

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