
Embarcava sem visto pelos quadros da parede. Via o necessário para se perder – viajar em pigmentos, mostruários mensais e agendas do ano passado. Colecionava o que não foi, do que não volta. Descrevia em detalhes folhagens esquecidas de canto. Olhava para as marcas de sapato sujando os pés contínuos do balcão. Percebia os pingos mortos de café com leite das borrifadas desajeitadas de algum idiota, ou de algum problema com a térmica, ou de algum acidente casual movido da simplicidade e insignificância de pegar uma xícara de café, entre um passo e outro, mesa e outra.
Era assim. O olhar se detinha ao fio de cabelo perdido no chão - da secretária, cozinheira, recepcionista, telefonista... ou do office boy. Como se o importante fosse não por onde o rato passa, mas os cantos que foge, que se esconde. O não visto era o que via. E não via que o trabalho ficava para trás, em meio à percepção desenfreada dos nadas cotidianos.
Um dia, de chão limpo, térmica limpa e memória vaga, foi demitido em meias palavras. Saiu em silêncio.
Não disse adeus. Às 11:46, ia atravessar a rua. Atravessar para o outro lado – o dos desempregados. Viu quando um grilo marrom acinzentado pulou no seu sapato rachado e sem brilho. Mas não viu o carro.
Era assim. O olhar se detinha ao fio de cabelo perdido no chão - da secretária, cozinheira, recepcionista, telefonista... ou do office boy. Como se o importante fosse não por onde o rato passa, mas os cantos que foge, que se esconde. O não visto era o que via. E não via que o trabalho ficava para trás, em meio à percepção desenfreada dos nadas cotidianos.
Um dia, de chão limpo, térmica limpa e memória vaga, foi demitido em meias palavras. Saiu em silêncio.
Não disse adeus. Às 11:46, ia atravessar a rua. Atravessar para o outro lado – o dos desempregados. Viu quando um grilo marrom acinzentado pulou no seu sapato rachado e sem brilho. Mas não viu o carro.
3 comentários:
nossa, fantático
e adorei a foto.
muito bom!
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