sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Aviso


Avisou que iria. Foi um aviso assim: sorriso de abrir os lábios e pôr os dentes pro mundo. Nada disse. Nada explicou. Nada pensou. Talvez esteja levando pra sempre o que viu ao fazer do rosto um novo desenho antes de se ir. Uma imagem: um sofá velho e acabado, um abajur que não funciona, um imenso tapete, que cobre metade da sala, puído, uma estante com alguns livros: Poe, Camus, Baudelaire, Quintana, Kafka. Ah!, e Florbela! Isso tudo, e eu. Mas que importância haveria eu de ter diante do mundo? Além da porta há flores e risos, e perfumes deliciosos, e muito mais livros, e coisas novas, e a todo instante há coisas novas e sempre que se encontra algumas, outras, muitas outras aparecem. E vozes novas e novos corpos, e tudo isso pode ser renovado e remoçado da noite pro dia, e do dia pra noite. E tudo será diferente de hoje amanhã. É fácil sair assim. Um sorriso de mudar as linhas do rosto. Nenhuma explicação, uma olhadela no entorno, pra ver se tudo está como sempre esteve, um giro nos calcanhares, abrir e fechar a porta e deixar o vento levar. É bom estar lá fora. Tem um mundo inteiro pra se visitar, ruas e mais ruas pra caminhar, correr e brincar. E uma infinidade de pessoas diferentes pra se ver e com quem falar, com quem querer, com quem transar. Tudo bem! Ele pode ir sem nada dizer, com aquele sorriso besta na cara, mas a porta não ficará fechada. Não, mesmo!
- Ariovaldo, seu filho da puta!, dessa vez você vai levar suas cuecas sujas ou quer que eu jogue no lixo?

por: Rubens Lunge

Nenhum comentário: