quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sexta à noite

Hormônios. Parentes dos neurônios, filhos dos aminoácidos. Estupidamente debilitados e um tanto loucos, das drogas que o povo consome para acalma-los. Identificados em 1902, completam ciclos viciosos, detonando a moral de moralistas demagogos e divertindo os descendentes hormonais desconhecidos com a futilidade sutilmente derramada nas vontades, que dão origem aos atos sociais de suas vítimas.

Quando encontrar Aline, ele vai perguntar sobre hormônios. Sobretudo, qual o hormônio do amor. Não do amor que estimula músculos, sobretudo o músculo genital. Mas do amor poderoso e ditador que figura entre uma ansiedade alcoólica e o ataque cardíaco que ele sofre toda vez que tenta estabelecer conexões humanas com outros humanos. Sobretudo, humanos a quem se desmonta em exagerada afeição.

De feição mórbida e nariz constipado pelo excesso de calmantes ingeridos, viaja Arizonas imaginando cactos nascendo nos dentes, sugando toda gota de saliva castigada no deserto de sua boca, lotada de dunas. É um peixe sem asas, no mar da desigualdade. Ele é o carro deixado no estacionamento, enquanto o dono aprecia a festa dos desesperados. Um condenado a pensar a existência, antes que pudesse aprender a sorrir. E não chora, porque já embruteceu.

Hormônios, os filhos revoltados do corpo. Os professores químicos. Os jornalistas do meio celular. Ele já julgou: “jornalistas são sempre filhos da puta”, sobretudo os do meio celular. Eles e os efeitos de longo prazo. Vagarosos e ordinários – os hormônios. Eles, as mulheres e as tabelas para não engravidar. Para engravidar. Hormônios e a época fértil, sobretudo a dos homens – a dele. Eles e o aborto desajeitado dos sentidos civilizados da PESSOA masculina e da PESSOA feminina. Ele e a terrível saudade de conversar com Aline, sobre hormônios.

Quando lembra que foi um cachorro pervertido por culpa dos malditos hormônios, ele pensa em Ana. Pela vigésima oitava vez pega o celular.

“Alô!”.
E o orgulho hormonal dela agride o orgulho hormonal dele, basicamente em seis palavras: “Foi bom saber que você existiu”.

2 comentários:

Rodrigo Mota disse...

Bacana falar sobre o hormonio do amor, que não é um hormonio, como ja dizia um certo poeta (Breton) "No amor não devemos buscar a felicidade, e sim buscar o Amor" Já que a felicidade ela é coletiva e não unitária, dividade em partes pra cada um, aquele que se diz feliz sozinho, é um mero egoista que não quer dividir seu espaço, seu tempo, sua atenção.

Anônimo disse...

necessario verificar:)