Era eu, na cama tudo revirado, um monte de papel amassado, luzes acesas, televisão ligada, pessoas felizes anunciando, denunciando, vivenciando sorrisos fingidos pra garantir o ganha-pão. Continuo tentando, inventando, imaginando uma estória. Afundado nisso, tenho praticamente vegetado nos três últimos meses, minha cooperação para a destruição das florestas tem alcançado os mais altos índices. É um bom trabalho, ficar em casa, sentado, escrevendo, mas seria necessário muito mais que isso, até aqui na minha própria casa, necessito de produção. A revista me ligou a semana passada inteira cobrando algum artigo, mas depois que assinei esse maldito contrato as idéias fugiram, sumiram. Pra minha sorte o telefone foi desligado na segunda, ao menos sinto um pouco mais o silêncio. Tenho procurado sair pelas manhãs, parar num lugar qualquer da cidade e ouvir o que as pessoas conversam, tenho buscado diálogos alheios, problemas cotidianos que acometem os transeuntes...Outro dia, parado no balcão de uma lanchonete, presenciei um dos mais interessantes até agora. Era um casal, não pude ver o grau de relação pois estava de costas e achei por bem não me virar, eles sutilmente tentavam um ao outro:
__Ah! Você me fita assim, mas depois de algum tempo nem vai querer mais saber de mim, ainda não conhece meus defeitos.
__Não quero perfeição, você sabe bem o que quero.
__Na verdade você não precisa de perfeição, já tem tudo aí. Só quer um contemplador.
__Olhar-me no espelho é fácil, mas não é tão fácil assim...me perder em um olhar.
__Quer saber? Você ainda vai me mandar ver se está na esquina!
__MMMM...Se eu estiver lá!
Apos isso houve um silêncio delicioso, fiquei estarrecido com a passagem e fui embora fantasiando um "solinho" de trumpete envolvendo o casal, como em ONE GREY MORNING. De alguma forma me emocionei, esperei que houvesse um tempo de verdadeira satisfação para eles. À caminho de casa me senti solitário como em ONE GREY MORNING, incompleto como em ONE GREY MORNING, e, sem ver opções, continuei...PÁPÁPÁ...PÁPÁPÁ...PÁPÁPÁ.
ONE GREY MORNING
Ron Sexsmith
__Ah! Você me fita assim, mas depois de algum tempo nem vai querer mais saber de mim, ainda não conhece meus defeitos.
__Não quero perfeição, você sabe bem o que quero.
__Na verdade você não precisa de perfeição, já tem tudo aí. Só quer um contemplador.
__Olhar-me no espelho é fácil, mas não é tão fácil assim...me perder em um olhar.
__Quer saber? Você ainda vai me mandar ver se está na esquina!
__MMMM...Se eu estiver lá!
Apos isso houve um silêncio delicioso, fiquei estarrecido com a passagem e fui embora fantasiando um "solinho" de trumpete envolvendo o casal, como em ONE GREY MORNING. De alguma forma me emocionei, esperei que houvesse um tempo de verdadeira satisfação para eles. À caminho de casa me senti solitário como em ONE GREY MORNING, incompleto como em ONE GREY MORNING, e, sem ver opções, continuei...PÁPÁPÁ...PÁPÁPÁ...PÁPÁPÁ.
ONE GREY MORNING
Ron Sexsmith
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