quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Graça

imagem: .patrícia

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sinto a chuva bater no meu sertão de lata,
asfáltico.
molha, encharcando a terra que jamais sentirá,
debaixo do concreto.

minha poesia é uma casca de banana.
só pára nela quem escorrega,
porque não vê -
barrado pelo azar.

minhas finalidades são todas amenas.
meu circo não tem palhaço -
tem uma criança chorando,
tem uma família lutando
pela venda dos ingressos.

minhas virtudes são desencontros
que a chuva já apagou
da memória.

meu amor é um pássaro que não voa,
agarrado, ainda, na mão que o tirou do ninho -
só para uma fotografia.

Um comentário:

Jorgito disse...

Não sei se comentar textos mais antigos é uma brincadeira de mau gosto ou se é mais algo enigmático, ou se é preguiça mesmo... mas não podia passar sem deixar de dizer: lindo.