segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mentira


Era um sábado ensolarado. Mas não tinham muitas pessoas naquela praça, as poucas presentes não chamavam atenção. No entanto, não era o silêncio que imperava, era um barulho gostoso de preguiça.


Fiquei ali meio paralisado. Tentava entender o que tinha acontecido, tinha tudo, toda beleza, mas não estava satisfeito, não fazia sentido. Trazia comigo uma marca no peito, algo guardado por muitas gerações, era como uma chaga, um defeito grave.


Tentava esquecer, olhando para as folhas, pra terra, para tudo que é imperfeito. Busca esquecer o que tinha sido. O vento fraco batia na árvore e o sol parecia brilhar mais forte, cegando os olhos. Eu me via correndo entre as folhas secas, como uma criança ilustrada, com uma energia que nunca tive. Corria até perde-me de vista.


Sento no banco com o coração disparado, suo frio e o sol já não me aquece. Sinto um dor leve que vem de dentro pra fora. Já faz tempo que ela esta ai, eu sei, há muitas gerações. Ela vai ficar ai até que eu me esqueça dela, foi assim em outros tempos. Meu rosto enrugado não me deixa mentir. Olho para os lados e vejo, ainda com as vistas embaçadas, eu mesmo sentado em cada conjunto de bancos ao longo da imensa praça. Cada um deles têm um de mim, sentado, chorando.


Penso ser minha a culpa. Acreditei em um ser humano puro e livre dos pesadelos da desonra, guiado por seus sonhos e por suas virtudes, mas acabei matando a todos esses velhos sentados ao meu redor. Sou cúmplice dessa fantasia e carrego comigo a mágoa de querer para esses velhos flácidos o que eu não sou.

(música)
Abra sua mão e mexa forte o seu cabelo
Sinta o latido do seu cão
sinta
é você

Pesa essa dor de nunca ter sido alguém
para ela, você só é mais um passando
você passou, já foi, é esquecimento
Sinta você, nunca foi ninguém
sinta o seu cão
seu cão explode
é você!

[Arranjo de Rômulo Brosco]

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