segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Voejo de estar

imagem: .patrícia

Para mim, ele existe. Dizem que não. Que é coisa de gente metida a inventora de palavras. De gente que não sabe expressar, e suspira. Não me convencem. E bom que não tentaram.
Pois que é o mais belo de todos.

É um verbo. O verbo? Sim, daquelas palavras dançarinas, que exprimem e se exibem em ação, “qualidade ou existência”. Que enrolam, desafiam, mexem com, repetem excertos, mostram, transpiram, arrebentam. E conseguem, nas convulsões mais cruéis da língua, salvar o vocabulário de gentes como eu.

É daquele tipo de palavra que dá a elocução agradável do “matar” da fome. Do “tocar” das texturas. Do “doar” de sentires, percepções, mentiras, canções. Do “iludir” da sobrevida. Que seja. E transfigura tanto, tanto, que o “contar” do infinito perde a graça diante da corrida contra o fim. E sempre perde, eu sei.

Instanciar. É quando o tempo se vai e continuo... nem sei. O tempo se esvazia devagar e a percepção de tal se afunda no sopro que já foi. Instanciar é o que mais dança, porque é o que mais fica parado nesta “vida dura” de palavra de ação. Para mim, faz que existe - e instancio. Na garagem, quando sempre às onze da noite, a vizinha acende a luz do banheiro. Eu fico. E o tempo vai. Não abre a janelinha basculante, mas liga o chuveiro. Instancio, espiando o que poderia. E não pôde. Ou o vizinho ou a criança, ou só o descaso com a água do mundo. E não existe palavra, só instante. Que passa, parado. Se vai e não volta nunca mais.

Dizem que não.

Mentiram. Há de existir e deve já ser usado. Ousado? Deve ter percorrido emergências voláteis, dessas iguais as de gentes como eu. Que silencia, quando não há nem suspiro, nem respiro, nem ausência. Há, como exemplo figurado, minha caixinha de guardar o carro - me protegendo dos pensamentos que estão para nascer.

Um comentário:

Glauco disse...

Como poderia uma caixinha de material te proteger de pensamentos atômicos? O pior é quando pessoas direcionam flechas para o ciberespaço e humanos desavisados, como eu, lêem sem saber o que os espera.