Fingia aconchego montando castelos com caixas vazias de chocolates. Puro tédio lúdico. Uma beleza só vista antes com ele, enquanto a chuva caía. Agora, nem me preocupo em perder o sol por toda vida, permanecendo e permanecendo. O teto já sabe mais de mim que eu mesma. Mas, só as paredes falam. Me contam causos, situações corriqueiras da rotina. As brigas, as ironias. Elas são as beatas da casa. Contam de tudo. Até coisas pequenas, tipo o meu pai comendo uma maçã, esticado no sofá. Coisas que eu não vi, as paredes me contam. De metidas, que meu interesse é pequeno - fofoqueiras que são. E eu mereço também o silêncio das coisas que não falam. Para me concentrar nos castelos, sabe. Mereço o silêncio por direito, entendem? As paredes não calam!
Às vezes, sinto que implantaram na carne dos tijolos, chips provenientes da mais alta tecnologia. E eles gravam o que penso. São eles que fazem as paredes falarem. Elas falam muito. Mas, quando sou eu que penso em falar, eles gravam. Sempre para se protegerem. E não me deixam ser canivete suíço, porque intuem um acesso de raiva meu. E eu sou calma, todo o dia, montando meus castelos no tapete da sala. Assim, sou obrigada a testar a força das facas de cozinha. Pego-as emprestadas da pia. Prometo amor eterno e a pia, burra que só ela, acredita e me dá. Mas são fracas, as facas. Perdem os dentes das serras logo. Isso só acontece porque não me deixam ser canivete suíço. Se não, estariam aconchegadas ao lado das colheres e dos garfos. (Talvez entre eles, para não sentirem frio). Pois que se entendam com a pia, então. Porque preciso rasgar a pele de tinta. Preciso livrar as paredes do mal lingüístico. Do mal literário. Daqueles chips! E faze-las entender que o mundo é mais bonito com projetos arquitetônicos ousados, como os castelos que monto encostados na estante, subindo em trilho até a TV. E risco o azul da parede, devagar, com as facas de cozinha. E nem suspiro, porque é gravado. Eu sinto que sim, e cuido para não pensar, ou pensar pouco – cuido para pensar só em não pensar.
Só paro de raspar a tinta das paredes quando o vento vem e eu tenho que correr para salvar meus castelos. Depois volto. Lamento, e as deixo cicatrizar em baixo dos Band-Aids.
Às vezes, sinto que implantaram na carne dos tijolos, chips provenientes da mais alta tecnologia. E eles gravam o que penso. São eles que fazem as paredes falarem. Elas falam muito. Mas, quando sou eu que penso em falar, eles gravam. Sempre para se protegerem. E não me deixam ser canivete suíço, porque intuem um acesso de raiva meu. E eu sou calma, todo o dia, montando meus castelos no tapete da sala. Assim, sou obrigada a testar a força das facas de cozinha. Pego-as emprestadas da pia. Prometo amor eterno e a pia, burra que só ela, acredita e me dá. Mas são fracas, as facas. Perdem os dentes das serras logo. Isso só acontece porque não me deixam ser canivete suíço. Se não, estariam aconchegadas ao lado das colheres e dos garfos. (Talvez entre eles, para não sentirem frio). Pois que se entendam com a pia, então. Porque preciso rasgar a pele de tinta. Preciso livrar as paredes do mal lingüístico. Do mal literário. Daqueles chips! E faze-las entender que o mundo é mais bonito com projetos arquitetônicos ousados, como os castelos que monto encostados na estante, subindo em trilho até a TV. E risco o azul da parede, devagar, com as facas de cozinha. E nem suspiro, porque é gravado. Eu sinto que sim, e cuido para não pensar, ou pensar pouco – cuido para pensar só em não pensar.
Só paro de raspar a tinta das paredes quando o vento vem e eu tenho que correr para salvar meus castelos. Depois volto. Lamento, e as deixo cicatrizar em baixo dos Band-Aids.
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