terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Flamejantes engarrafados

Recados da inconstância dormiam ao lado daquele rosto morto. Viver, para ele, nunca foi uma boa idéia.

As vertigens que teve no último dia cinco sorriam debochando dos costumes lentos que tinha – e vinham na contramão. O contato com a avó, e essa amizade cada vez se resplandecia mais, não era senão uma dádiva frente ao desastre que era acostumado a ver sobre a própria vida. Ele cantava de costas para viver a vida que a avó vivia nos seus anos juvenis. E fazia tempo.

Um dia acordou com dor no dedo da pinta média. A pinta, mais conhecida como a “belezinha” do indicador esquerdo, era o charme secreto que dava sentido sedutor às saídas noturnas dele. Ninguém sabia disso. Ninguém sabia dele. Do que comia, sentia, vendia ou domava. Na verdade, nunca dominou nada. Nem dormiu fora de casa. Nunca leu economia, sociologia e essas coisas todas literárias. Mas era apaixonado.

Ela havia chegado não fazia muito. Minutos após quebra de sigilo da personalidade de um deles, zelaram pelos lapsos de memória. Cachorro-quente, ela pediu. Ele preferiu convida-la para um vinho tinto seco. Ela não era afim de aparências, mas gostava do amargo no doce, que ele representava. Despediram-se.

Acordou, se vestiu, deitou e dormiu mais um pouco. Num salto, levantou atrasado e saiu sem fechar a casa. Na volta, esqueceu onde pôs as chaves.

Foi internado às 15h 30 min da tarde de ontem. Ela levou um cachorro-quente e leu para ele o cartão que acompanhava o buquê de margaridas. Ele não podia ouvir.

Conheceu o irmão dele no hospital. Rapaz estranho, menos que o outro em certos aspectos, mas tão interessante quanto e mais saudável. Ele a convidou para comer cachorro-quente. Ela até queria, carente, mas sentiu o dilema e disse que não tinha vontade de comer salsicha com o outro no hospital. Despediram-se também.

Voltando para casa, ela, entediada com os homens, parou para tomar um sorvete na esquina do orelhão arrebentado por pré-adolescentes entediados com a vida. Em casa, vestiu o pijama e abotoou a sorte nas vísceras da esperança. Dormiu, sem lembrar que os dois um dia existiram.

3 comentários:

Anônimo disse...

pois então Patricia, curti muito os desenhos em preto e branco e coisa e tal, tenho uma pequena publicação, gostaria de saber se vc gostaria de participar com os desenhos.... meu msn é rexthelost@hotmail.com

aguardo

Me disse...

Menina: ficando sempre melhor! :) bjs

Glauco disse...

Isso não é saudável patrícia, pra falar a verdade é triste e contagiante, mas ainda bem que há esperança intraintestinal. Escreva sobre algo fútil e juvenil, faça-me rir :}