segunda-feira, 5 de novembro de 2007

ladrilhos


imagem: .patrícia

em ladrilhos, visto uma pele sem perfume.
de sonhar já lembro pouco.
um a um. os ladrilhos formam a estrutura que esconde.

veias.ossos.tecidos.sangue.

vertigem óptica. delírio infame.
em ladrilhos. me formo.
e me arrebento.

sem cimento. sem pilares.
pronta para tirar um. meio. e descobrir
mais um tanto de nadas.

e um punhado de meus ossos.

os poros, os ladrilhos. Esse
frio e meu rosto. o lobo manso
da desordem. a construção
sem rumo de meu corpo.

a epiderme. os olhos
da mente e os dedos.
esse território de soluços
e espantos.

meu espírito
sobre a faca das estruturas
temporais.

vestindo o doce escondido, internamente,
nas estátuas de sal.
procuro sorrir o que teu sorriso me faz.
se chorar, só
lágrimas de soro caseiro.
que deslizam
nessa valeta angustiada - verde, lilás - delirante.
nenhum ladrilho mais.
me desfaço no sangue.
seguindo as veias de fio de cobre.
o pobre nervo de aço, quebrado.
o mesmo jeito dos ossos, desarrumados.
desajeitada assim, eu sigo - sempre
para me sorrir, ao te ver sorrir.

e sangrar como um sol
e uma faca acesa. Como
os poros e esse afeto.
o terreno comum
de nossos antebraços
e os dentes azuis
da vida
caindo agressivamente
sobre nossas costas
assinando nosso
nome e destino.

me reviro. olhos.
língua e sonho.
nossa carne
estendida
sobre o horizonte
do jardim de casa.

não vejo. os olhos rolaram a ladeira.
aceitei a conduta.
refiz o trajeto do sangue.
voei pelos espaços estreitos dos cílios.
fui em busca do teu olhar. porque não vejo.
carne. pele. sangue. flor sem hálito e destino.
caminho. rastejando pelo caminho.
procurando regar o que ainda pode nascer
deste resto de corpo.

o que ainda nascerá desse ventre comum
nossa palavra doce escondida nas pálpebras
da manhã levemente desperta
teus braços sobre o sonho
e nossa visão queimando as horas
dentro do quarto

o silêncio e esse tempo morto
agonizando como um bicho baleado
sobre o asfalto e debaixo do sol
como um cavalo sem pernas

rumando para a próxima estação

velozmente.

carregando uma criança sem data
e as risadas do povo cobrindo
sua pele. uma ressurreição.




***


.patrícia e josé menin

Um comentário:

Rafaela Locatelli disse...

Patii!
Adorei seu blog! E suas illustrações inclusive! Aquela colorida ali de cima ficou o máximo! Acho que tu tem que continuar indo la no núcleo, vai te abrir muitas portas ;)
E ach oque tu devia fazer elas sempre coloridas!
Amei de verdade
x*********
Ps.:Ta add no msn já!